segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra(Arnaldo Jabor)


O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e
exclamam "que horror".
Sabem do roubo do político e falam "que vergonha".
Vêem a fila de aposentados
ao sol e comentam "que absurdo".
Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem "que baixaria".
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram "que medo".
E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição "neste país".
Do ressentimento passivo à participação ativa.
Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.
(...)
No Rio Grande do Sul,
palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador
anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!

"Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
Foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade"

Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo. E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de
mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo.
(...)
Desde que saí de Bauru,
nos anos setenta, não sei mais o que é "comunidade".
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o Hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que
São Paulo tem hino? Pois é...
Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os "ressentimentos passivos"
se transformarão em participação ativa?
De onde virá o grito de "basta" contra os escândalos, a corrupção e o deboche
que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo.
(...)
Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa "liga". A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão
em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho
me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:

'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'

Arnaldo Jabor

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